Entre
os séculos XI e XIII, a Europa cristã empreendeu uma série
de expedições de peregrinos organizados em tropas armadas,
com o objetivo de recuperar o Santo Sepulcro, que estava em mãos
dos turcos, e deter o avanço das ordas mulçumanas
sobre o ocidente. A estas chamaram Cruzadas. A História registra
oito destas marchas na direção leste, tendo a primeira sido
realizada em 1096 e a última em 1270, sempre comandadas por homens
famosos em sua época como Ricardo Coração de Leão,
rei da Inglaterra, Frederico II, imperador germânico e Luís
IX, rei da França, alguns tendo perdido a vida nestas guerras.
Uma analogia com os dias de hoje se faz possível: os mulçumanos,
personificando os bárbaros modernos, promovendo atentados em diversos
países, organizados em grupos como Al-Qaeda, Hammas ou Al-Fatah,
patrocinados por Osama Bin Laden ou Saddam Hussein, e os peregrinos cristãos
do século XXI, uniformizados, equipados com a mais avançada
tecnologia em armas, organizados em divisões, brigadas e batalhões,
liderados por Tony Blair e George Bush, no que talvez pudéssemos
denominar a "nona Cruzada". Segundo a nova doutrina do presidente
americano, os Estados Unidos se reservam o direito de usar a força
contra qualquer país que represente uma ameaça por possuir
armas de destruição em massa ou por ter uma atitude hostil
em relação à América. A intenção
é atacar de forma preventiva, aproveitando-se de sua incomparável
superioridade militar,
negando ao inimigo qualquer possibilidade de reação. Já
não se constrangem em assumir seu papel de "polícia
do mundo" nem diante de seus antigos aliados como a Grã-Bretanha,
França ou Japão, que pouco podem fazer neste momento.
Com
a vitória relâmpago na Guerra do Golfo II, os americanos
modificaram completamente a geopolítica do Oriente Médio.
A instalação de um administrador provisório no Iraque
e a provável eleição de um governante fantoche, permitiram
aos EUA estabelecer uma base no país, com cerca de 120 mil soldados,
que não só ajudarão a manter a ordem na região,
como também servirão de ponta-de-lança para novas
aventuras militares contra nações consideradas nocivas,
entre elas Irã, Síria e Coréia do Norte. A presença
dessas tropas trazem para Israel uma relativa tranqüilidade, por
estar sob seu círculo protetor, pois sabem que os americanos não
hesitariam em acioná-las para defender seu fiel aliado em caso
de alguma agressão árabe. Além disso continuam a
receber a ajuda econômica e militar dos EUA, na faixa de US$ 4 bilhões
anuais. Para os países árabes a situação é
diametralmente inversa. Nunca correram tanto risco de ver seus governantes
destronados e suas cobiçadas jazidas de petróleo mudarem
de mãos. A Síria, por sua ajuda ao agonizante regime de
Saddam durante a guerra e por talvez representar hoje uma maior ameaça
aos judeus, parece ser o próximo alvo de Bush. O Irã, sob
o domínio de um regime islâmico radical, mas que vem desenvolvendo
e se equipando com melhores armas, com a ajuda dos russos, ficaria para
uma fase posterior. Até a Arábia Saudita entrou na lista
negra, ao negar seu território para as forças americanas
e por ser a terra natal de Bin Laden e da maioria dos terroristas dos
atentados do 11 de setembro. Mas a mão que bate também afaga.
Tentando amenizar a onda anti-americana que aflora no planeta, os Estados
Unidos, com apoio da ONU e da Europa, propuseram um plano, denominado
"Mapa da Estrada"
que seria implantado em três etapas, culminando com a criação
de um Estado palestino até 2005. Embora haja demonstrações
de boa vontade de ambas as partes, israelenses e palestinos terão
extrema dificuldade em cumprir todas as exigências do acordo, principalmente
pelo radicalismo de algumas de suas instituições. Porém
a estratégia da nona Cruzada já está traçada
e será cumprida a risca, para que os "infiéis"
do Oriente não venham um dia a ameaçar a paz e a democracia
do império americano. Será que no futuro seremos considerados
inimigos potenciais e passíveis de sofrer uma intervenção
militar? Alertemo-nos.
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