Estrada para lugar algum

Luta desigual nos territórios ocupadosTerminados os combates nas principais cidades iraquianas, o governo americano apresentou um plano de paz, com a intensão de pôr fim às hostilidades entre árabes e israelenses, e estabelecer as bases de um Estado palestino independente. Conhecido como o "Mapa da Estrada" ou "Mapa do Caminho", começou a ser delineado antes mesmo da II Guerra do Golfo, para aplacar a ira e o sentimento anti-americano daqueles que se opunham a uma intervenção militar no Iraque, tentando demonstrar uma certa boa vontade do governo Bush em buscar uma solução negociada para a crise no Oriente Médio.

O plano, apoiado pela Europa, Rússia e Nações Unidas, está dividido em três etapas: 1a.) Cessam-se as ações terroristas dos grupos extremistas palestinos e realizam-se eleições. Israel retira suas tropas da área palestina e impede a instalação de novos assentamentos; 2a.) Criação de um Estado palestino, com fronteiras provisórias. Com monitoramento de observadores internacionais inicia-se a última etapa; 3a.) Definição das fronteiras da Palestina, solução para a questão de Jerusalém (reivindicada por ambas as partes como capital), retorno dos refugiados palestinos e retirada dos assentamentos judeus. Toda tentativa de se preservar a paz é louvável, principalmente em uma região onde os confrontos são quase que inevitáveis, alimentados por uma desconfiança mútua e um ressentimento do mundo árabe pela expulsão de seus irmãos das terras que dariam origem ao Estado de Israel, em 1948.

Sharon, Bush e Abbas na cúpula da JordâniaPorém algumas questões são difíceis de serem equacionadas. A direita israelense e os grupos extemistas palestinos, como o Hammas e a Jihad Islâmica, rejeitam o acordo e só acreditam no uso da força para resolver as diferenças. Os assentamentos judeus na faixa de Gaza e na Cisjordânia, incentivados pelo governo como forma de manter o domínio sobre os territórios conquistados nas guerras de 1967 e 1973, não serão removidos sem resistência ou compensação financeira, e onde o partido Likud de Ariel Sharon, tem boa parte de seus votos. O recém eleito primeiro-ministro Mahmoud Abbas, da Autoridade Palestina, apesar de condenar frontalmente o terror, pouco poder tem sobre as diversas facções radicais, que disseminam o medo entre a população de Israel, com ataques suicidas constantes, provocando a retaliação de Tel-Aviv, que executa ações para eliminar seus principais líderes, num círculo de violência que parece não ter fim. A cidade de Jerusalém tem significado religioso para os dois lados, que se mostram intransigentes quanto à sua posse e onde ocorreu o incidente que deu origem a atual Intifada, quando Sharon visitou um lugar sagrado para os árabes num ato de desafio, que já deixou 2.100 palestinos e 700 israelenses mortos.

Pesa contra os Estados Unidos, patrocinadores do "Mapa da Estrada", o fato de serem os maiores aliados de Israel, ao qual ajudam econômica e militarmente, não permitindo sua total imparcialidade nas negociações, por maior empenho que demonstrem para sua aplicação, pressionados ainda pelo poderoso lobby de judeus americanos, importantes para a reeleição de Bush em 2004. Problemas complexos exigem soluções complexas e antagonismos são comuns neste tipo de situação, mas ninguém seria ingênuo de supor que um confronto de décadas se resolveria de forma rápida e sem concessões. É necessário desprendimento e inclinação para o diálogo. Um pouco de tolerância e paciência, muita paciência. O primeiro passo foi dado com a cúpula de Ácaba, na Jordânia, numa reunião histórica em que Bush, Sharon e Abbas se comprometeram em seguir fielmente o plano proposto. Serão precisos meses, talvez anos, para se pavimentar o caminho para uma solução definitiva, onde os povos israelense e palestino possam trabalhar e prosperar em paz. Caso contrário a "estrada" que se pretende construir entre as duas nações, acabará levando a lugar algum.





www.militarypower.com.br
Sua revista digital de assuntos militares