O primeiro computador do mundo era uma máquina tão secreta
que sua existência permaneceu desconhecida do público civil
por mais de três décadas, tanto assim que ele foi quase
que totalmente destruído sem deixar vestígios 16 anos
depois de ter sido construído. Este equipamento foi idealizado
para ajudar a decifrar os códigos criptografados da máquina
alemã Enigma. Embora os ingleses possuíssem
uma delas, capturada de um submarino alemão nas águas
do Atlântico Norte, eles se viram diante de uma necessidade de
realizar milhões de complexas operações matemáticas,
em um curto espaço de tempo a cada dia, pois a Enigma
era capaz de criar um vasto número de modos para encriptar uma
mensagem. Seus três rotores podiam elaborar 150.000.000.000.000.000.000
(não é erro de digitação, o valor está
correto) de configurações possíveis, tornando
humanamente impossível decodificá-la, já que seus
os códigos-chaves eram trocados diariamente pelos alemães.
Para se ter uma idéia da dificuldade desta tarefa, uma equipe
de matemáticos precisaria trabalhar 24 horas por dia com uma
centena de Enigmas, testando uma chave a cada 15 segundos e
levariam 20 milhões de anos para decifrar este código.
A fim de alcançar este objetivo, uma nova máquina que
pudesse fazer milhares de cálculos ao mesmo tempo era necessária.
Então em 1943 construiu-se o Colossus, que é
amplamente reconhecido como o primeiro computador programável
operacional do mundo. O cérebro privilegiado por trás
do Colossus era Alan Turing, um brilhante matemático
que desenvolveu a noção de utilizar algoritmos em computadores
digitais. Nascido em Londres em 1912, Turing foi educado no Kings
College em Cambridge e se formou na Universidade de Princeton,
tornando-se mais tarde membro destas duas instituições,
bem como do Laboratório Nacional de Física e da Universidade
de Manchester. Também reconhecido como um pioneiro no campo da
inteligência artificial, ele teorizou que seria possível
criar máquinas capazes de executar uma série de tarefas
de forma automatizada, nos moldes dos computadores que conhecemos nos
dias atuais. Durante os anos 30 ele desenhou um mecanismo chamado de
"Turing Machine" que era capaz de efetuar qualquer
tarefa de cálculo de forma sistemática, e com isto ele
expressou os primeiros conceitos sobre inclusão e captura de
dados, memória digital e programas codificados.
Em 1938, após atualizar seus conceitos construiu um aparato mecânico
analógico para testar sua teoria. Recrutado pelo governo britânico,
Turing tornou-se um dos primeiros cientistas a se juntar ao staff
da Government Code & Cypher School (Escola Nacional de
Códigos e Criptografia) estabelecida na localidade de Bletchley
Park em 1939. Trabalhando ao lado de homens como Max Newman e do grande
engenheiro Tommy Flowers, Turing começou a idealizar uma "máquina
pensante" capaz de rapidamente decodificar a Enigma. Ela
deveria ser em todos os aspectos de magnitude mais rápida e mais
capacitada do que a máquina de código alemã. Construído
ao longo de 1943 e instalado em Bletchley Park após o Natal daquele
ano, o Colossus teve seus testes operacionais iniciados em
janeiro de 1944 e foi considerado um sucesso. Naqueles dias os Aliados
ultimavam os preparativos para a Operação
Overlord, o desembarque nas praias da Normandia em junho, que seria
a ponta de lança da invasão da Europa e que teve todo
seu planejamento revisado e atualizado pelo Colossus. Dentro
de um ano haveriam dez de tais máquinas trabalhando incessantemente
sobre montanhas de códigos alemães a serem decifrados.
Cada Colossus ocupava literalmente uma sala separada em Bletchley
Park, pois eram enormes. A seção principal tinha 2,10
metros de altura com duas baias de 4,80 metros de largura, além
de um equipamento adicional acoplado a ele, podendo ler cerca de 5.000
caracteres por segundo de uma impressora de teletipo. Usava células
fotoelétricas para ler as fitas de papel perfurado, muito parecidas
com as usadas pelos computadores dos anos 70 e era programado com algoritmos
de correlação cruzada, inseridos através de plugs
similares aos utilizados em mesas telefônicas da época.
Após o fim da Segunda
Guerra as instalações em Blechtley Park foram desativadas,
o local foi isolado e todas as pessoas que haviam trabalhado no projeto
juraram manter silêncio sobre o tema, sujeitos a sanções
previstas no Ato Oficial de Assuntos Secretos, e oito das super-secretas
máquinas Colossus foram completamente destruídas.
Em 1960, as duas máquinas remanescentes estocadas em Londres,
bem como todo material impresso, desenhos e diagramas relacionados à
sua construção e operação foram também
destruídos. Alan Turing voltou para o Laboratório Nacional
de Física onde continuou com seu trabalho teórico nos
campos da computação digital e da inteligência artificial.
Somente em 1974, vinte anos após a sua morte, o governo britânico
reconheceu oficialmente a existência do Colossus e sua
inestimável contribuição para o esforço
de guerra Aliado. Calcula-se que a quebra do código alemão
tenha encurtado o conflito em pelo menos dois anos e poupado a vida
de cerca de 14 milhões de pessoas.