Após o fim da Batalha da França e a evacuação
das tropas britânicas de Dunquerque durante a Operação
Dínamo, grande parte da produção e do
esforço de guerra da Grã-Bretanha foi canalizada
para o Comando de Bombardeiros da RAF e a ofensiva de bombardeio
estratégico contra a Alemanha. No entanto, as perdas
de bombardeiros em cada ataque começaram a aumentar
durante 1941, o que a Inteligência britânica concluiu
ser devido ao uso alemão de equipamento de radar avançado.
Um cientista britânico que trabalhava em sistemas e
técnicas de radar, R.V. Jones, ao examinar documentos
alemães vazados, bombardeiros da Luftwaffe acidentados,
decifrações da Enigma e por meio de
interrogatórios de prisioneiros de guerra, descobriu
que sinais de rádio de alta frequência estavam
sendo transmitidos de algum lugar do continente, que acreditava
vir de um tipo de radar direcional. Poucos meses após
essa descoberta, ele identificou vários desses sistemas
de radar, conhecido como conjunto "Freya-Meldung-Freya",
em homenagem à antiga deusa nórdica. Então,
Jones e os outros cientistas sob seu comando puderam começar
a elaborar contramedidas contra o sistema, e a RAF pôde
começar a localizar e destruir as próprias instalações.
Ele também
encontrou evidências de uma segunda parte da configuração
Freya, referida nas decifrações da
Enigma
como "Würzburg", que consistia em
uma antena parabólica de cerca de 3 metros de diâmetro,
que funcionava em conjunto com o Freya para localizar
bombardeiros britânicos e então direcionar os
caças noturnos da Luftwaffe para atacá-los.
O Würzburg FuSE 62 D também tinha a vantagem
de ser muito menor que o sistema Freya e mais fácil
de fabricar nas quantidades necessárias para a Luftwaffe
defender o território alemão. Para neutralizar
o sistema Würzburg desenvolvendo contramedidas
contra ele, Jones e sua equipe precisavam estudá-lo
ou pelo menos as peças mais vitais da tecnologia das
quais o sistema era composto. Em um voo de reconhecimento,
um caça Spitfire identificou um local que
ficava no topo de um penhasco imediatamente ao norte da vila
de Bruneval, próximo a Le Havre, na costa do Canal
da Mancha. Um pedido de ataque ao local para capturar um sistema
Würzburg foi passado ao Almte. Lord Louis Mountbatten,
o comandante das Operações Combinadas. Após
receber permissão para conduzir o ataque, o almirante
e sua equipe estudaram a instalação de Bruneval
e suas defesas, concluindo rapidamente que, devido às
extensas defesas costeiras na área ao redor da instalação,
ela estava muito bem protegida para permitir um ataque de
comandos anfíbios.
Acreditando que surpresa e velocidade seriam os requisitos
essenciais de qualquer ataque contra a instalação
para garantir a captura do radar, Mountbatten viu um assalto
aerotransportado como o único método viável.
Em janeiro de 1942, ele determinou que 1ª Divisão
Aerotransportada e 38ª Ala da RAF ficariam responsáveis
por executar a missão, denominada "Operação
Biting" e popularmente conhecida como
"Assalto a Bruneval" (mapa).
O treinamento para o ataque seria iniciado imediatamente,
esperando-se que estivessem prontos em fevereiro, quando as
condições meteorológicas seriam adequadas.
A companhia "C", comandada pelo Major John Frost,
viajou para Inveraray, na Escócia, onde passou por
treinamento especializado, praticando em barcaças de
desembarque para preparar a companhia para a evacuação
por mar após o ataque à instalação
do radar. Depois disso, a unidade retornou a Wiltshire e começou
a realizar lançamentos de paraquedistas
com as aeronaves e tripulações do 51º Esquadrão.
Foi criado também um modelo em escala da instalação
do radar e dos edifícios circundantes. O sargento de
voo da RAF, C.W.H. Cox, se voluntariou para a missão
pois como um técnico especialista em rádio eletrônica,
seria seu trabalho localizar o radar Würzburg,
fotografá-lo e desmontar parte dele para transporte
de volta à Grã-Bretanha. Acompanhando a força
de ataque estava uma seção de 10 homens dos
Engenheiros Reais liderada pelo tenente Dennis Vernon. Seis
dos sapadores desmontariam o dispositivo de radar, enquanto
outros quatro plantariam minas antitanque para proteger a
força de contra-ataques. Informações
sobre a instalação do radar em Bruneval também
foram coletadas durante esse período, muitas vezes
com a ajuda da Resistência Francesa, sem a qual o conhecimento
detalhado da disposição das forças alemãs
que guardavam a instalação teria sido impossível.
Era composta por duas áreas distintas: uma vila a aproximadamente
90 metros da borda de um penhasco, que continha a própria
estação de radar, e um recinto contendo vários
edifícios menores que continham uma pequena guarnição.
A antena foi erguida entre a vila e o penhasco. A estação
de radar era permanentemente operada por técnicos da
Luftwaffe e era cercada por postos de guarda, com cerca de
30 homens, e os edifícios no pequeno recinto abrigavam
cerca de 100 soldados alemães, incluindo outro destacamento
de técnicos. Um pelotão de infantaria alemã
estava estacionado ao sul, em Bruneval, para reforçar
as defesas. Com base nessas informações, Frost
decidiu dividir a companhia em cinco grupos de 40 homens para
o ataque, cada um com o nome de um famoso almirante da Marinha
Real: "Nelson", "Jellicoe", "Hardy",
"Drake" e "Rodney". "Nelson"
neutralizaria as posições alemãs defendendo
a praia para a evacuação, enquanto "Jellicoe",
"Hardy" e "Drake" capturariam o local
do radar, a vila e o recinto. "Rodney" era a formação
de reserva, posicionada entre o local do radar e a provável
rota de abordagem inimiga para bloquear qualquer contra-ataque.
Considerou-se que a combinação de lua cheia,
para garantir a visibilidade, e maré alta, para permitir
a manobra das barcaças de desembarque em águas
rasas, seria vital para o sucesso do ataque, o que reduziu
as datas possíveis para quatro dias, entre 24 e 27
de fevereiro. O ataque foi adiado por vários dias devido
às condições climáticas, mas em
27 de fevereiro o tempo provou ser ideal, com céu limpo
e boa visibilidade para as aeronaves do 51º Esquadrão,
e uma lua cheia que forneceria iluminação para
a evacuação da força de ataque. A força
naval sob o comando do Comandante Cook partiu da Grã-Bretanha
durante a tarde e as aeronaves de transporte AW-38 Whitley
com os homens da Cia "C" decolou da base RAF Thruxton
à noite. As aeronaves cruzaram o Canal da Mancha sem
incidentes, mas ao chegarem à costa francesa, foram
alvo de pesado fogo antiaéreo; no entanto, nenhuma
delas foi atingida e elas levaram com sucesso os paraquedistas
para a zona de lançamento designada (ZD) perto da instalação.
O lançamento foi um sucesso quase total, com a maioria
da força pousando no local designado, no entanto, metade
do destacamento "Nelson" pousou a 3,2 km da ZD.
Assim que os outros destacamentos reuniram seus equipamentos
e se orientaram, partiram para realizar suas tarefas. "Jellicoe",
"Hardy" e "Drake" não encontraram
oposição inimiga enquanto se moviam em direção
à vila que abrigava a instalação do radar,
e após cercá-la, Frost deu a ordem de abrir
fogo com granadas e fogo automático. Um guarda alemão
foi morto ao revidar o fogo de uma janela do andar de cima,
e outros dois foram feitos prisioneiros pelas tropas aerotransportadas;
após interrogatório, os prisioneiros revelaram
que a maioria da guarnição estava estacionada
mais para o interior. Ainda havia uma força inimiga
substancial nos prédios no pequeno recinto perto da
vila, e esta agora abriu fogo contra a força invasora
após ser alertada pelo tiroteio inicial, matando um
paraquedista. O volume de fogo aumentou rapidamente, quando
veículos inimigos puderam ser vistos se movendo em
direção à vila a partir da floresta próxima;
isso, em particular, preocupou Frost, pois os rádios
que a força havia recebido não funcionaram,
não lhe dando meios de comunicação com
seus outros destacamentos, incluindo "Nelson", que
estava encarregado de limpar a praia para a extração.
O sargento Cox e vários sapadores chegaram neste momento
e começaram a desmontar o equipamento de radar, colocando
as peças em carrinhos especialmente projetados. Tendo
assegurado o equipamento de radar e sob pesado fogo inimigo,
Frost deu a ordem para que os três destacamentos recuassem
para a praia; tornou-se evidente, no entanto, que ela não
havia sido protegida pelo destacamento "Nelson"
com seu efetivo insuficiente, quando uma metralhadora alemã
abriu fogo contra os paraquedistas, ferindo gravemente o sargento-mor
da Companhia. Frost ordenou que "Rodney" e os homens
disponíveis de "Nelson" limpassem as defesas,
enquanto ele liderava os outros três destacamentos de
volta à vila, que havia sido reocupada pelos alemães.
Porém logo foi novamente libertada de tropas inimigas
e, quando Frost retornou à praia, descobriu que o ninho
de metralhadoras já havia sido destruído pelas
tropas de "Nelson". A essa altura, eram 02:15, mas
não havia sinal da força naval que deveria evacuar
seus homens. Frost ordenou a "Nelson" que guardasse
os acessos terrestres à praia e, em seguida, disparou
um sinalizador de emergência; logo depois, as barcaças
foram vistas se aproximando e todas as seis chegaram ao mesmo
tempo, com as tropas de cobertura abrindo fogo contra os soldados
alemães reunidos no topo do penhasco. A confusão
na praia fez com que algumas das embarcações
saíssem superlotadas, enquanto outras saíram
com metade da dotação. No entanto, o equipamento
de radar, os prisioneiros alemães e todos da força
de ataque (exceto seis) foram embarcados e transportados de
volta à Grã-Bretanha, que transcorreu sem incidentes,
escoltados por quatro destróieres e uma esquadrilha
de caças
Spitfire. Os paraquedistas contaram
dois mortos, oito feridos e seis homens que não retornaram
aos barcos. Posteriormente, foram feitos prisioneiros pelos
alemães. O sucesso do ataque contra a instalação
em Bruneval teve dois efeitos importantes. Primeiro, um ataque
bem-sucedido contra o território ocupado pelos alemães
foi um bem-vindo incentivo moral para o público britânico
e teve destaque na mídia por várias semanas.
O primeiro-ministro britânico, Winston Churchill,
interessou-se pessoalmente pela operação e várias
medalhas foram concedidas como resultado: Frost foi condecorado
com a Cruz Militar, Cook com a Cruz de Serviço Distinto,
Cox com a Medalha Militar, além de outras 16 condecorações
ou citações aos demais participantes da operação.
O sucesso do ataque também levou o Ministério
da Guerra a expandir as forças aerotransportadas existentes.
O segundo e mais importante resultado do ataque foi o conhecimento
técnico adquirido pelos cientistas britânicos,
que puderam implementar uma contramedida recentemente desenvolvida,
de codinome Window, cuja eficácia foi confirmada
por ataques conduzidos pelos bombardeiros da RAF, quando munidos
dessas contramedidas conseguiram "cegar" todos os
conjuntos de radares alemães e deixar seus operadores
confusos, incapazes de distinguir entre a assinatura de radar
de um bombardeiro e vários pedaços do Window
emitindo uma assinatura semelhante. O Telecommunications
Research Establishment, onde grande parte do equipamento
Bruneval foi analisado e onde os sistemas de radar britânicos
foram projetados e testados, foi movido para o interior para
garantir que não se tornaria alvo de um ataque de represália
pelas forças aerotransportadas alemãs.