Confidencial



Batalha pelo Forte Ében-Émael

Como os paraquedistas alemães capturaram uma fortaleza quase inexpugnável, em maio de 1940.



Assalto aéreo ao Forte Eben-Emael, em 1940 O Forte Ében-Émael foi construído na década de 30, por iniciativa do governo belga para proteger uma parte vital de sua fronteira com a Alemanha, localizado estrategicamente 60m acima do Canal Albert e dando cobertura às planícies de norte a sul por quase um quilômetro, com seus principais armamentos montados na direção do território germânico. Com uma área de 180 x 370m possuía paredes e tetos de concreto armado com cerca de 1,5m de espessura, além de quatro casamatas retráteis e sessenta e quatro postos de tiro. Estava equipado com seis peças de artilharia de 120mm com alcance de 15km; dezesseis peças de artilharia de 75mm; doze canhões antitanque de alta velocidade de 60mm; vinte e cinco metralhadoras duplas; e algumas armas antiaéreas. Um lado do Forte ficava de frente para o canal, enquanto os outros três ficavam de frente para terra e eram defendidos por campos minados, valas profundas, um muro de 6m de altura, casamatas de concreto equipadas com metralhadoras e canhões antitanque de 60mm. Muitos túneis passavam por baixo das fortificações, conectando torres individuais ao centro de comando e aos depósitos de munição. Também possuía hospital, alojamentos para a guarnição, além de uma central elétrica exclusiva. Em 10 de maio de 1940, a Alemanha lançou o Fall Gelb ("Plano Amarelo"), a invasão da Holanda e da França. Ao atacar através da Holanda, Luxemburgo e Bélgica, o Oberkommando der Wehrmacht (Alto Comando das Forças Armadas) alemão planejou flanquear a Linha Maginot e isolar a Força Expedicionária Britânica e uma grande parte das forças francesas, forçando o governo francês a se render. Para isto, as forças alemãs teriam de derrotar as forças armadas holandesas e contornar ou neutralizar várias posições defensivas. A principal linha defensiva belga, a Linha KW ao longo do rio Dyle, protegia o porto de Antuérpia e a capital belga, Bruxelas. Os militares belgas designaram uma Divisão de Infantaria para guardar as três pontes sobre o canal na área, sendo uma brigada designada para cada ponte. Estas eram defendidas por fortificações equipadas com metralhadoras e o apoio de artilharia seria fornecido pelo Forte Ében-Émael, cujas peças de artilharia cobriam duas das pontes. Os alemães então desenvolveram uma estratégia para tomar as três pontes e capturar a fortaleza, permitindo que as suas Forças rompessem as posições defensivas e avançassem para a Holanda. A força encarregada de atacar a fortaleza e capturar as três pontes foi formada por elementos da 7ª e da 22ª Divisões Aéreas e foi denominada Sturmabteilung Koch (Destacamento de Assalto Koch) em homenagem ao seu líder, capitão Walter Koch. Embora fosse composta principalmente por paraquedistas, ficou decidido que os primeiros pousos deveriam ser de planadores silenciosos, conseguindo um ataque surpresa, uma vez que os defensores belgas não seriam capazes de detectá-los. Cinquenta planadores de transporte DFS 230 foram fornecidos para uso pela força de assalto e então começou um período de treinamento intensivo. Foi feito um estudo detalhado do Forte, das pontes e da área local, e uma réplica da área foi construída para o treinamento (o projeto do Forte Ében-Émael havia sido feito por duas empresas alemães, que tinham as plantas originais do complexo). Exercícios conjuntos entre os paraquedistas e os pilotos de planador foram realizados no início de 1940, bem como refinamento nos equipamentos e táticas a serem utilizados. O capitão Koch dividiu sua força em quatro grupos de assalto: grupo Granite, comandado pelo tenente Rudolf Witzig, composto por oitenta e cinco homens em onze planadores cuja tarefa seria assaltar e capturar o Forte Ében-Émael; o grupo Steel, comandado pelo tenente Gustav Altmann, e formado por noventa e dois homens e nove planadores, capturaria a ponte Veldwezelt; o grupo Concrete, comandado pelo tenente Gerhard Schacht e composto por noventa e seis homens em onze planadores, capturaria a ponte Vroenhoven; e o grupo Iron, sob o comando do tenente Martin Schächter, composto por noventa homens em dez planadores, que capturariam a ponte Kanne. O elemento crucial para a força de assalto era o tempo. Acreditava-se que a combinação de uma abordagem silenciosa dos planadores e a falta de uma declaração de guerra por parte do governo alemão daria aos atacantes o elemento surpresa.

Paraquedistas alemães descendo dos planadores no ataque ao Forte Eben-Emael, em 1940. O plano alemão era eliminar dentro de uma hora tantas posições antiaéreas, cúpulas e casamatas individuais quanto fosse possível, e a todo custo colocar fora de ação as peças de artilharia de longo alcance que cobriam as três pontes. A força designada para atacar o Forte Ében-Émael deveria pousar no topo da fortaleza em onze planadores, eliminar quaisquer defensores que tentassem repeli-los e neutralizar toda a artilharia. Tendo alcançado os seus objetivos iniciais de tomar as pontes e o Forte, os paraquedistas defenderiam então as suas posições até à chegada das forças terrestres alemãs do 18º Exército. O Fall Gelb deveria começar às 05h25 do dia 10 de maio e logo o Fallschirmjäger (Tropa Paraquedista) entrou em uma pista não iluminada às 03:00 e às 04h30, quarenta e dois planadores transportando as 493 paraquedistas decolaram de dois aeródromos em Colônia, virando-se para o sul em direção aos seus objetivos, mantendo estrito silêncio de rádio. Alguns planadores tiveram os cabos arrebentados e pousaram ainda em território alemão, desfalcando parte das tropas destinadas ao ataque à fortaleza. Mas os planadores restantes foram liberados de seus cabos de reboque a 32 km de distância de seus objetivos, a uma altitude de 2.100 m, que foi considerada alta o suficiente e com o ângulo correto para que os planadores pousassem nas três pontes e no topo do Forte corretamente. Depois que os rebocadores Junkers Ju-52 soltaram os planadores e começaram a se afastar, as posições da artilharia antiaérea belga os detectaram e abriram fogo. Isso alertou as defesas da fortaleza sobre um ataque iminente. Todos os nove planadores que transportavam as tropas designadas para o grupo Steel pousaram próximo à ponte em Veldwezelt às 05:20, o arame farpado enrolado nos patins de pouso dos planadores conseguiu fazê-los parar rapidamente. O planador pertencente ao tenente Altmann pousou a alguma distância da ponte, e um segundo pousou diretamente em frente a uma casamata belga, que começou a enfrentar ambos os grupos de paraquedistas com tiros de armas leves. O suboficial encarregado das tropas do segundo planador lançou granadas contra a casamata enquanto um de seus homens colocava uma carga explosiva (foram utilizados pela primeira vez explosivos de carga oca, que geravam um fino jato de aço fundido, com resultados devastadores) na porta e a detonava, permitindo que o bunker fosse atacado e removido como obstáculo. Simultaneamente, Altmann reuniu as suas tropas e conduziu-as ao longo de uma vala paralela à ponte até que dois homens conseguiram chegar à margem do canal e subir nas vigas da ponte e desativar as cargas de demolição ali colocadas pelos defensores. Os belgas resistiram até que um pelotão de reforços alemães chegou e os forçou a retirar-se para uma aldeia próxima. No entanto, o fogo de armas leves da força de assalto não conseguiu superar dois canhões localizados a quinhentos metros da ponte, forçando assim Altmann a pedir apoio aéreo. Várias bombardeiros de mergulho Junkers Ju-87 Stuka foram acionados e inutilizaram as armas. O grupo Steel deveria ser substituído às 14h30, mas a resistência belga impediu a sua chegada até às 21h30.

Soldados alemães desativando explosivos em uma ponte próxima ao Forte Eben-Emael, em 1940. Durante os combates, a força de ataque deixou oito paraquedistas mortos e trinta feridos. Dez dos onze planadores que transportavam o grupo Concrete pousaram próximo à ponte Vroenhoven às 05h15, o décimo primeiro planador foi atingido por fogo antiaéreo a caminho da ponte e foi forçado a pousar prematuramente em território holandês. Os planadores foram atacados por Forte fogo antiaéreo, porém a maioria deles pousou sem danos. Um aterrisou próximo à fortificação que abrigava os detonadores da ponte e isso permitiu que os paraquedistas atacassem rapidamente a posição, eliminando os ocupantes e arrancando os fios que conectavam os explosivos ao conjunto de detonadores, garantindo que a ponte não pudesse ser destruída. Os restantes defensores belgas resistiram ferozmente, montando vários contra-ataques na tentativa de recapturar a ponte. Eles foram repelidos com a ajuda de várias metralhadoras lançadas de paraquedas. Os constantes ataques belgas fizeram com que o grupo Concrete não fosse retirado e substituído por um batalhão de infantaria até às 21h40. Eles sofreram perdas de sete mortos e vinte e quatro feridos. Todos, exceto um dos dez planadores que transportavam as tropas do grupo Iron, conseguiram pousar próximo ao seu objetivo, a ponte em Kanne, mas enquanto desciam a ponte foi destruída por várias explosões desencadeadas pelos belgas. Ao contrário das guarnições das outras duas pontes, os defensores em Kanne foram avisados, pois a coluna mecanizada alemã que se dirigia à ponte para reforçar o grupo Iron chegou vinte minutos antes do previsto. Seu aparecimento arruinou qualquer chance de um ataque surpresa e deu aos defensores tempo suficiente para destruir a ponte. Quando os planadores pousaram, um deles foi atingido por fogo antiaéreo e caiu no chão, matando a maioria dos ocupantes. Os outros paraquedistas que desceram em segurança atacaram as posições belgas e eliminaram os defensores. Às 05h50, os paraquedistas haviam assegurado a área, bem como uma vila vizinha, mas foram então submetidas a um Forte contra-ataque que só foi repelido com a ajuda dos Ju-87 Stuka. Os belgas lançaram vários outros contra-ataques durante a noite, garantindo que as tropas alemães não pudessem ser substituídas até a manhã de 11 de maio. O grupo Iron sofreu as maiores baixas de todos os três grupos de assalto designados para capturar as pontes, com vinte e dois mortos e vinte e seis feridos, e um destacamento foi feita prisioneiro pelos belgas, sendo libertado mais tarde de um campo perto de Dunquerque. Os nove planadores restantes que transportavam os homens do grupo Granite pousaram com sucesso no teto do Forte Ében-Émael, usando paraquedas para retardar sua descida e rapidamente pará-los. As tropas emergiram rapidamente das aeronaves e começaram a anexar cargas explosivas às posições no topo do Forte que abrigavam as peças de artilharia que poderiam atingir as três pontes já capturadas.

Paraquedistas alemães logo após a captura do Forte Eben-Emael, em maio de 1940. Na parte sul do Forte uma casamata de observação de artilharia que abrigava três peças de artilharia de 75mm foi destruída com uma carga mais pesada, que derrubou a sua cúpula e parte do telhado do próprio Forte. Uma torre transversal contendo mais duas peças de artilharia, também foi destruída e então se dirigiram a uma torre contendo outras três armas de 75mm, a neutralizando parcialmente o que os forçou a atacá-la pela segunda vez para destruí-la. Outro par de canhões de 75mm em uma cúpula foi destruído, assim como um quartel que abrigava tropas belgas. No entanto, as tentativas de destruir duas torres gêmeas com canhões de alto calibre montados em uma cúpula giratória, era grande demais exigindo o uso de tropas de dois planadores. Cargas foram afixadas nas torres e detonadas, mas embora as sacudissem não as destruíram e outros paraquedistas foram obrigados a escalá-las e quebrar os canos das armas. Na seção norte do Forte, ações semelhantes ocorriam, à medida que os alemães corriam para destruir ou de outra forma desativar as fortificações com as peças de artilharia. Uma casamata que abrigava várias metralhadoras cujos arcos de fogo cobriam o lado oeste do Forte foi atacada com um lança-chamas para forçar os soldados belgas que manejavam as armas a recuar e, em seguida, detonaram cargas para desativá-la. Complicações inesperadas vieram de uma cúpula retrátil que abrigava duas peças de artilharia de 75mm, onde o rápido disparo das armas fez com que o apoio aéreo fosse convocado e um esquadrão de Ju-87 Stuka bombardeou a cúpula. Embora as bombas não a tenham destruído, as explosões forçaram os belgas a retraí-la durante o resto dos combates. Quaisquer entradas e saídas exteriores localizadas pelas tropas alemães foram destruídas com explosivos para selar a guarnição dentro do Forte, dando à guarnição poucas oportunidades de tentar um contra-ataque. Os paraquedistas atingiram o objetivo inicial de destruir ou inutilizar as peças de artilharia que o Forte poderia ter utilizado para bombardear as pontes capturadas, mas ainda enfrentaram alguns outros pequenos obstáculos, posições com armas antiaéreas e metralhadoras pesadas. À medida que esses objetivos secundários eram atacados, um único planador pousou no topo do Forte de onde emergiu o tenente Rudolf Witzig cujo planador havia pousado involuntariamente em território alemão, então ele pediu outro rebocador pelo rádio chegando a tempo de comandar seus homens no ataque. Tendo alcançado os seus objetivos principais, os paraquedistas agora teriam que manter a posição repelindo os contra-ataques belgas, que começaram quase imediatamente. Eram realizados por formações de infantaria belga sem apoio de artilharia e foram descoordenados, permitindo que os alemães os detessem com fogo de metralhadoras. Patrulhas também foram utilizadas para garantir que a guarnição belga permanecesse sitiada no interior do Forte e não tentasse retomá-lo. Diante deste ataque, a guarnição belga, que contava com apenas 750 homens de uma força regular de 1.200, se rendeu às 12h30 com baixas de 23 homens mortos e 59 feridos. Os alemães capturaram mais de mil soldados belgas. O grupo Granite sofreu seis mortos e dezenove feridos. O ataque aerotransportado às três pontes e ao Forte Ében-Émael foi um sucesso geral para o Fallschirmjäger, considerado como um feito de extrema ousadia e decisivo para o sucesso do Fall Gelb, com as peças de artilharia neutralizadas e duas das pontes alvo capturadas antes que pudessem ser destruídas. Isto permitiu que a infantaria e os blindados do 18º Exército contornassem outras defesas belgas e entrassem no coração do país.






www.militarypower.com.br
Sua revista digital de assuntos militares