O resgate de Mussolini

Como os paraquedistas alemães resgataram o ditador italiano de seu cativeiro nos Alpes.



Paraquedistas alemães  antes de embarcarem para a ação. Em julho de 1943, após a queda de Tripoli na África e do desembarque bem sucedido dos Aliados na Sicília, a liderança de Benito Mussolini, começou a ser questionada pelos italianos, que já não acreditavam mais que a Itália pudesse continuar engajada em um conflito ao qual fora levada pelos sonhos megalomaníacos do ditador facista. No dia 25, o Grande Conselho votou pela deposição e prisão de Mussolini, que foi levado para local ignorado. No dia seguinte Hitler determinou que fosse elaborada uma operação para salvá-lo de seus captores, pois ele era o elemento principal de seu plano de derrubar o novo governo italiano, prendendo seus membros e a família real, reconduzindo Mussolini ao poder, única forma de manter os italianos na guerra ao lado dos nazistas. A busca seria empreendida por um destacamento da força especial das Waffen SS, dirigido por um jovem oficial  chamado Otto Skorzeny, que fora escolhido pessoalmente pelo Fuhrer. A rede do serviço secreto alemão trabalhava intensamente na busca do local do cativeiro do ditador e após muitas informações desencontradas descobriram que um prisioneiro especial estava sendo retido nas montanhas ao norte de Roma.

Fotografias aéreas do local indicavam um hotel situado no topo de um estreito planalto no Gran Sasso, conhecido como Albergo-Refugio. Um ataque por tropas de montanha foi descartado, pois estas seriam avistadas muito antes de chegarem ao seu objetivo e Mussolini poderia ser fuzilado ou transferido para outro local. A melhor opção seria um assalto de tropas aerotransportadas em planadores DFS230, dotados de freios-foguetes e paraquedas de frenagem, que poderiam pousar com razoáveis possibilidades de sucesso em um pequeno espaço triangular ao lado do hotel. O plano, denominado "Operação Eiche", determinava que uma companhia de paraquedistas (Fallschirmjager) desembarcaria de 12 planadores ao lado da edificação. Ao mesmo tempo, um batalhão capturaria a extremidade final da estrada da montanha. A idéia era levar Mussolini de carro até um aérodromo no vale logo abaixo onde ele embarcaria em um avião. Caso isto não fosse possível, um avião leve modelo Fieseler Storch pousaria no ressalto perto do hotel para levá-lo direto à base aérea de Pratica di Mare, de onde seria transportado até Viena em um Heinkel He-111. Além disso, levariam com as tropas um comandante dos carabinieri para que esse oficial ordenasse aos guardas do Albergo, que também eram carabinieri, que não resistissem nem matassem o prisioneiro.

Ilustração de um paraquedista alemão com uniforme padrão desta unidade. Às 14 horas do dia 12 de setembro de 1943, o batalhão comandado pelo major Mors capturou a extremidade final da estrada que levaria ao vale logo abaixo. Conforme o combinado, os planadores soltaram ao mesmo tempo as cordas que os prendiam aos rebocadores e começaram a descer. Normalmente planadores militares necessitam de um espaço razoável para minimiza os riscos de um pouso desse tipo, mas nesta missão não havia escolha: se errassem na aproximação ou bateriam na montanha poucos metros à direita ou deslizariam pela grama sem controle, despencando de uma altura de mais de 2.000 metros no vale abaixo. Cientes disso, à medida que a distância diminuía, Skorzeny e seu piloto observaram que o terreno escolhido não era plano, mas muito rochoso e inclinado. Tomando uma decisão desesperada, o piloto dirigiu a formação de planadores para o espaço de estacionamento a poucos metros da entrada do hotel, usando freios e... orações simultaneamente. Oito dos onze aviões conseguiram pousar, apinhando-se milagrosamente naquela pequena faixa de terreno, mas um deles caiu no precipício. Do planador de Skorzeny, os paraquedistas saltaram pela porta lateral com a aeronave ainda em movimento, lançando-se na direção dos estarrecidos guardas italianos que se espreguiçavam tranquilamente ao sol momentos antes. Confusos e sem reação eles apenas visualizaram o oficial carabinieri que acompanhava os alemães gritando para que seus comandados não atirassem.

Em pânico, os guardas abandonaram suas armas e correram. Skorzeny seguido por alguns paraquedistas subiu as escadas que os levariam ao quarto no primeiro andar onde Mussolini estava aprisionado. Pego de surpresa o carabinieri que o vigiava largou sua arma e levantou os braços acima da cabeça, sendo prontamente rendido. Mussolini, trêmulo e pálido, ainda agradecia seus salvadores quando Skorzeny determinou que agilizassem a evacuação do prédio e se dirigissem ao ponto onde embarcariam no avião leve que os tiraria dali. Das opções iniciais só restara um pequeno Fiesler Storch que teria que decolar de uma área mínima no planalto, com o piloto, Mussolini e Skorzeny, que insistira em ir junto pois alegava ter ordens expressas do Fuhrer para acompanhar o ditador italiano até o fim da viagem. Com todos tensos dentro da cabine, o piloto acelerou o motor ao máximo enquanto cerca de dez paraquedistas seguravam o avião pela cauda para mantê-lo na posição adequada. Ao seu sinal os soldados soltaram a aeronave, que deslizou na direção do precipício e desapareceu. Então correram para a borda para ver o que iria acontecer e viram o Storch mergulhar para o fundo do vale e então, dezenas de metros abaixo, embicar e por fim entrar em vôo nivelado na direção de Pratica di Mare. Dali embarcaram em um He-111, que os levaria até Viena para que Mussolini se reuni-se secretamente com Hitler. O que no início foi considerada uma missão quase impossível, serviu para demonstrar toda a destreza e coragem dos paraquedistas alemães, a supertropa, como ficaram conhecidos durante a Segunda Guerra Mundial.





www.militarypower.com.br
Sua revista digital de assuntos militares