O sistema Echelon

Como funciona a secreta rede global de vigilância gerenciada pela americana NSA.



Sede da NSA em Forte George Meade, em Maryland, Estados UnidosNo maior esforço de vigilância jamais estabelecido, a NSA, Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (National Security Agency, em inglês) criou um sistema global de espionagem, codinome Echelon, o qual captura e analisa virtualmente todas as chamadas telefônicas, e-mails e mensagens enviadas de e para qualquer lugar do mundo. Nascido secretamente de um acordo entre a Grã-Bretanha e os Estados Unidos, conta hoje com o apoio do Canadá, Austrália e Nova Zelândia, países que juntos hospedam a maior parte dos sensores e estações receptoras do sistema. Porém sua existência é oficialmente negada e muitos dos detalhes operacionais ainda são um grande mistério. Os principais objetivos do Echelon são a espionagem comercial, política e militar, esta última com maior ênfase após os atentados de 11 de Setembro, numa tentativa de monitorar os diversos grupos terroristas. O funcionamento do Echelon é relativamente simples: antenas e sensores posicionados estrategicamente ao redor do planeta captam todo sinal de satélite, microondas, celular e comunicações por fibra ótica, e então processam estas informações em possantes computadores da NSA, incluindo avançados sistemas de reconhecimento de voz e programas de leitura ótica de caracteres, na busca por fatos relevantes ou algum dado que mereça análise aprofundada. As bases nos Estados Unidos cobrem as comunicações nas três Américas, a da Grã-Bretanha é responsável pela Europa, África e Rússia, a da Austrália acompanha o sudeste da Ásia e do oceano Pacífico e a do Canadá complementa a cobertura no Hemisfério Norte. Com sede em Fort George Meade, perto de Washington, a NSA foi criada em 1952 com a missão de conduzir operações de inteligência de sinais (SIGINT), segurança das comunicações (COMSEC), segurança dos sistemas de informação e apoio às operações de combate do Departamento de Defesa. É responsável ainda por criar todos os códigos criptografados usados para proteger as comunicações do governo americano. Permanece até os dias de hoje como a mais misteriosa e secreta agência de inteligência do país.


Estação de sensores do Echelon, situada em Menwith Hill,  na  Grã-BretanhaO Echelon uitliza programas e computadores que transcendem o estado da arte, processando milhões de mensagens a cada hora, durante 24 horas do dia, sete dias por semana em sua busca incansável por palavras-chave, números de telefones ou fax e padrões de voz em mensagens que possam significar uma ameaça à segurança dos Estados Unidos e seus aliados, analisadas em mais de cem línguas diferentes pelos especialistas da NSA. Alguns acham que esta poderosa rede de vigilância é uma invasão na privacidade dos cidadãos, infringindo inclusive direitos garantidos pela Constituição. Mas seus defensores argumentam que a vulnerabilidade de americanos no exterior, alvos que são de atentados terroristas, de suas empresas num mercado cada vez mais competitivo e a instabilidade política em várias regiões do planeta, justificam a necessidade de se monitorar as comunicações em tempo integral em todos os continentes. Seus argumentos são reforçados pelas vitórias da inteligência sobre os inimigos dos Estados Unidos, como no caso dos mísseis em Cuba em 1962, a captura dos terroristas que sequestraram o navio de cruzeiro "Achille Lauro" em 1995, a descoberta do envolvimento da Líbia no atentado a uma danceteria de Berlin que provocou a morte de muitos americanos e outros incontáveis sucessos que não são divulgados por questões de segurança, mantidos com a classificação "top secret". Na área da espionagem comercial, mensagens interceptadas foram entregues às grandes corporações americanas, em muitos casos favorecendo companhias que ajudaram a NSA a desenvolver os sistemas para o Echelon, entre elas Lockheed Martin, Boeing, TRW e Raytheon, gerando conflito de interesses. A espionagem política não é menos questionável, tendo sido usada para acompanhar movimentos de grupos como a Anistia Internacional e o Greenpeace, com o objetivo de derrubar governos contrários aos interesses americanos e até mesmo para espionar autoridades dentro do Congresso e da Casa Branca. A despeito da necessidade de se confrontar o terrorismo internacional e dos muitos benefícios proporcionados por esta massiva rede de vigilância embutida no Echelon, ainda permanece um lado escuro e perigoso em suas atividades e na forma tenebrosa de como podem ser utilizadas estas informações pela NSA e pelo governo dos Estados Unidos.


Nota
: Em 1994 o Brasil foi alvo de um dos primeiros e mais importantes casos de espionagem econômica utilizando-se o sistema Echelon: em uma operação conjunta da NSA com a CIA, as comunicações dentro do Palácio do Planalto foram grampeadas, além dos escritórios do grupo francês Thomson, no Rio e em Paris, durante a concorrência do governo brasileiro para a compra do conjunto de radares e sensores do SIVAM (Sistema de Vigilância da Amazônia), orçado em cerca de US$ 1,4 bilhão. Depois de meses de vigilância, com a rede de satélites militares interceptando conversações através de telefones, fax e correio eletrônico, o Departamento de Comércio dos EUA foi alertado sobre a provável vitória da Thomson. Então foi divulgado um relatório em que se acusavam empresas européias de pagar suborno a governos estrangeiros para vencer licitações e por duas vezes o presidente Bill Clinton ligou diretamente para o presidente Fernando Henrique Cardoso falando do interesse americano na vitória da Raytheon, o que acabou acontecendo, embora jamais tenha sido comprovada a suspeita de suborno de funcionários brasileiros. Em 2013 surgiram novas denúncias de que altas autoridades do governo, inclusive a Presidente Dilma Rousseff, haviam sido espionadas pela NSA, causando um estremecimento nas relações diplomáticas entre os dois países.





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