Operação Entebe

A missão de resgate mais complexa e bem executada de todos os tempos.



Tropas israelenses desembarcam do C-130 Hercules. Operação Entebe é o nome pelo qual ficou conhecida uma espetacular operação militar, levada a cabo pelas forças de segurança de Israel, em julho de 1976, para libertação de mais de 200 pessoas, sequestradas durante um vôo comercial, cujo avião fora desviado para o aeroporto de Entebe, situado nos arredores de Kampala, capital de Uganda (África), à época governada por Idi Amin Dada. Inicialmente denominada "Operação Thunderbolt", depois, foi rebatizada como "Operação Yonatan", em homenagem ao comandante da força-tarefa, o tenente-coronel Yonatan Netanyahu (irmão do ex-premier israelense Benjamin Netanyahu), único militar israelense morto durante a ação. Porém, ficou mundial e popularmente conhecida como "Operação Entebe". É considerada por muitos especialistas como a missão de resgate mais complexa e perfeita de todos os tempos. Essa foi a missão mais famosa da unidade Sayeret Matkal, cujas atividades consistem, em tempos de paz, em desenvolver constantemente táticas e treinamentos para outros grupos especiais antiterroristas e de mesmo nível, como o SAS (Reino Unido) e GSG 9 (Alemanha), dentre outros. O drama dos reféns começou, no dia 27 de Junho de 1976, com o sequestro de um Airbus A300 da Air France, que fazia a rota Tel Aviv-Paris, com escala em Atenas (Grécia), e 258 pessoas a bordo. Pilotado pelo comandante Michel Bacos, o avião francês decolou do Aeroporto Internacional Ben Gurion às 8h59, chegando em Atenas às 11h30. Desembarcaram 38 passageiros e embarcaram outros 58, entre os quais, os quatro sequestradores. Oito minutos após a decolagem, enquanto as comissárias preparam-se para servir o almoço, os terroristas assumem o controle do avião. Eram quatro, dois dos quais possuíam passaportes de países árabes, um do Peru com o nome de A. Garcia (na verdade, Wilfried Böse) e uma mulher do Equador de nome Ortega (na verdade, Brigitte Kuhlmann), estes dois últimos, posteriormente identificados como membros de uma das Revolutionäre Zellen ou Células Revolucionárias, rede de grupos militantes armados da Alemanha Ocidental, sendo que o mais conhecido desses grupos foi o Baader-Meinhof. O Airbus é desviado para Uganda, voando à noite em direção ao sul, sobre o Saara líbio e o Sudão, afastando-se cada vez mais do Oriente Médio, e chegando ao aeroporto de Entebe, por volta das três da manhã do dia 28 de junho. Os reféns foram então conduzidos para o prédio do antigo terminal do aeroporto. Na terça-feira, dia 29 de junho, uma mensagem revela os objetivos dos sequestradores: a libertação de 53 terroristas até às 14 horas do dia 1 de julho. Caso suas reivindicações não fossem atendidas explodiriam o avião com todos os passageiros.

Mapa com as rotas  dos  C-130 Hercules  na Operação Entebe. Oficialmente, o governo de Uganda adotou uma atitude neutra em relação aos sequestradores, mas na realidade eles eram bem-vindos. Líderes palestinos encontravam-se no aeroporto para receber o avião, bem como unidades do Exército de Uganda, deixando evidente a colaboração de Idi Amin com os guerrilheiros. Caberia a Israel elaborar um plano de resgate que pudesse levar à solução do impasse num exíguo prazo. Curiosamente, na mesma quarta-feira (30/06), foram os próprios terroristas que desperdiçaram sua maior vantagem. Sem atinar para as implicações de seu ato, separaram os reféns não-israelenses e, aparentemente num gesto de consideração para com os outros países, permitiram que 47 reféns, exceto cidadãos israelenses, retomassem sua viagem para a França. O comandante Bacos e sua tripulação recusam-se a acompanhar o grupo, afirmando que não abandonariam os demais passageiros. A confirmação dada pelos reféns soltos, meticulosamente entrevistados pelos serviços secretos da França e de Israel, de que o governo de Idi Amin estava apoiando os terroristas foi fundamental para as medidas que seriam tomadas por Israel a partir de 1 de julho, quinta-feira, quando, 90 minutos antes de expirar o prazo dado pelos sequestradores, o gabinete se reúne e aprova o início de negociações com os terroristas. Estes, por sua vez, afirmam não estar interessados em negociações e sim no atendimento de suas reivindicações, estendendo o prazo até às 14h do dia 4 de julho. Nesse 1 de julho, o Serviço de Inteligência descobre que o aeroporto de Entebe havia sido construído pela empresa israelense Solel Boneh, o que possibilita o acesso às plantas originais do local. Cada vez mais, após intensos encontros com oficiais do exército, Peres convence-se de que a opção militar é possível e que é apenas uma questão de tempo para que todas as peças do quebra-cabeça se encaixem. A princípio os israelenses trabalharam com três opções, decidindo-se por um assalto direto ao aeroporto. O General-Brigadeiro Dan-Shomron é nomeado comandante da missão em terra e Yonatan (Yoni) Netanyahu, comandante da unidade Sayeret Matkal, comandante da força-tarefa que a executará. Uma réplica do antigo terminal de Entebe é construída para simulação da operação, com base nas plantas obtidas junto à Solel Boneh e em fotografias aéreas, e os comandos começam a treinar. A preocupação maior entre todos os envolvidos é obter o máximo do "elemento-supresa". O ponto fundamental do plano era fazer aterrissar em Entebe, no meio da noite, quatro aviões Hércules C-130 de transporte, que desembarcariam tropas da unidade Sayeret Matkal e veículos. Para evitar que os aviões fossem detectados, o primeiro Hércules seguiria imediatamente atrás de um avião de carga inglês cujo vôo regular era esperado no aeroporto de Entebe.

Antigo terminal do aeroporto de Entebe, em Uganda. As tropas que realizariam a ação em terra estavam divididas em cinco grupos de assalto: Grupo de Assalto 1: se encarregaria da segurança da pista e dos aviões; Grupo de Assalto 2: tomar o edifício do antigo terminal e libertar os reféns; Grupo de Assalto 3: tomar o edifício do novo terminal; Grupo de Assalto 4: impedir a ação das unidades blindadas de Idi Amin e destruir os aviões de combate ugandenses MiG 17 e MiG 21 estacionados no aeroporto, para impedir uma possível perseguição. Este grupo também iria cobrir a estrada de acesso ao aeroporto, pois sabia-se que o Exército ugandense tinha tanques T-54 soviéticos e carros blindados OT-64 tchecos para transporte de tropas estacionados na capital. Grupo de Assalto 5: evacuar os reféns, conduzindo-os para o C-130 Hércules que estaria à espera e seria reabastecido no local ou em Nairóbi, no vizinho Quênia, um dos poucos países africanos amigos de Israel. Na medida do possível, tudo foi feito para eliminar os riscos. Sabia-se, por exemplo, que Amin uma vez chegara a Entebe num Mercedes preto escoltado por um Land Rover, e veículos como esses foram embarcados no Hércules que iria à frente, com o objetivo de confundir os ugandenses nos vitais primeiros minutos. A precisão tinha de ser absoluta, e foi. Sete horas depois da decolagem, a força israelense aproximava-se de Entebe, num céu carregado de chuva, sempre na escuta do comandante inglês, que recebia as instruções da torre de controle. O C-130 Hércules de Shomron colocou-se exatamente atrás do cargueiro. O Hércules líder levava a força de resgate, chefiada pelo Tenente-Coronel Yoni. Também levava dois jipes e o agora famoso Mercedes preto. Dois C-130 adicionais levavam reforços e tropas destinadas a executar missões especiais, tais como destruir os MiGs estacionados nas proximidades. Um quarto C-130 foi enviado para evacuar os reféns. O grupo aéreo também incluía dois Boeing 707. Um funcionava como posto de comando. O outro, equipado como um hospital aéreo, aterrissou em Nairobi, no vizinho Quênia. Os Hércules foram escoltados por um F-4 Phantom II até onde foi possível, cerca de um terço da distância. Circundando uma tempestade sobre o Lago Vitória, as aeronaves aproximaram-se do final de um vôo de 7 horas e 40 minutos.

Paraquedista israelense. Porém, esperava-os uma surpresa: as luzes da pista estavam ligadas! Mesmo assim, pousaram sem serem detectados às 23h01 (hora local), apenas um minuto depois da hora prevista. Após a aterrisagem, o primeiro C-130 segue para uma área mais escura da pista e, enquanto o cargueiro inglês taxiava, o Mercedes e dois Land Rover descem a rampa, transportando 35 membros da força-tarefa que iria tomar de assalto o velho terminal. Detalhe: os militares que iam no Mercedes estavam vestidos com uniformes ugandenses. Os operadores de radar não perceberam o intruso e nenhum alarme foi dado. Em outro local, dez membros da brigada de infantaria Golani saltam do avião e espalham sinais para orientar a aterrissagem das outras três aeronaves, que se aproximam rapidamente. Porém, os ugandenses logo perceberam a farsa e a 100 m do terminal duas sentinelas, com metralhadoras apontadas, ordenaram ao carro que parasse. Netanyahu e outro oficial abriram fogo com pistolas dotadas de silenciador, atingindo um dos homens, e o grupo seguiu em frente até uns 50 m do edifício. A partir daí, os israelenses foram a pé. Os reféns estavam todos deitados no salão principal e muitos dormiam. Quatro terroristas haviam sido deixados montando guarda, um à direita, dois à esquerda e um no fundo do salão. Todos estavam de pé e puderam ser identificados devido às armas que portavam. Apanhados de surpresa, foram mortos imediatamente, e o grupo de assalto subiu para o segundo andar para eliminar os demais terroristas. Diversos deles foram eliminados à queima-roupa enquanto dormiam. A ação no terminal antigo durou três minutos. Sete minutos depois que o primeiro C-130 aterrissou, o segundo pousava, seguido pelo terceiro e pelo quarto. Logo que as rampas eram baixadas, jipes e veículos de transporte saíam em disparada, atravessando a pista. O grupo comandado pelo coronel Matan Vilnai assaltou o edifício do novo terminal, que havia sido apressadamente abandonado pelos ugandenses. As tropas de Amin pareciam totalmente confusas e incapazes de esboçar uma reação coerente. A única resistência determinada vinha da torre de controle, de onde partiu a rajada que feriu mortalmente Yoni Netanyahu, postado do lado de fora do velho terminal. Mas a unidade de Vilnai eliminou esse núcleo de oposição graças ao fogo concentrado de metralhadoras e lança-granadas. O grupo do coronel Uri Orr encarregou-se do embarque dos reféns no avião que os aguardava. Por sua vez, a equipe que tinha ordens de eliminar os MiGs 17 e 21 ugandenses, levou poucos minutos para transformar onze deles em bolas de fogo com rajadas de metralhadoras. O último dos quatro C-130, com Shomron a bordo, parte de Entebe às 00h30 do dia 4 de julho, 90 minutos depois de o primeiro ter aterrissado. Na operação, do lado israelense os mortos foram quatro, dos oponentes, os 13 terroristas envolvidos no sequestro, além de 35 ugandenses. Nas primeiras horas da manhã do dia 4 de julho, os C-130 Hércules pousam em uma base da Força Aérea Israelense na região central do país. Enquanto os reféns são atendidos pelas equipes de terra, as unidades de combate descarregam seus equipamentos. Em seguida, retornam às suas bases e retomam suas funções de rotina, afastados da euforia que tomava conta de Israel e da admiração e respeito que haviam conquistado em todo o mundo pelo que haviam feito naquela noite.




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