O tesouro de Yamashita

O que realmente aconteceu com as riquezas que
foram roubadas pelos japoneses nos países ocupados?



General Yamashita  e  oficiais  de seu  QG. Um dos grandes enigmas pendentes da Segunda Guerra Mundial é o do chamado "tesouro de Yamashita". Pelo que parece, enormes quantidades de ouro e outros objetos valiosos permanecem ocultas em alguma ilha do arquipélago filipino à espera de ser encontradas por algum caçador de tesouros. A origem dessas incalculáveis riquezas é o saque efetuado pelo Exército japonês nos países invadidos. Os japoneses, no Extremo Oriente, consideraram as áreas ocupadas como o cenário idôneo para o roubo em grande escala. Seu metódico espólio deu lugar a uma enorme acumulação de riquezas, cuja maior parte se encontraria ainda enterrada em solo filipino. Muito se escreveu sobre a pilhagem efetuada pelos nazistas na Europa, embora o principal objetivo fosse tudo aquilo que pudesse alimentar a insaciável máquina de guerra alemã, como matérias-primas, combustíveis, veículos e inclusive trabalhadores, não era menos importante o translado ao Reich das obras de arte e, naturalmente, das reservas de ouro dos países ocupados. No entanto, muito pouco ou quase nada se sabe do paradeiro das riquezas confiscadas pelos japoneses no Oriente, desaparecidas misteriosamente depois da Segunda Guerra Mundial. Isso deu lugar a todo tipo de especulações, como se verá mais adiante. Contudo, para conhecer o hipotético destino dessa riqueza, é necessário referir-se antes ao militar japonês que daria nome ao tesouro, o general Tomozuki Yamashita, conhecido popularmente como o Tigre da Malásia. Esses bajuladores apelidos eram devidos à sua espetacular campanha na península malaia, que culminou com a conquista da possessão britânica de Singapura, em 15 de fevereiro de 1942. Depois de terminar os estudos com êxito em 1905, ingressou na Academia Militar Central, em Tóquio, graduando-se em 1916. Participou da guerra Sino-Japonesa comandando uma divisão que realizou excelente campanha.

Em 1940 Yamashita foi enviado à Manchúria, onde se sobressaía como um excelente estrategista, sem desmerecer seu domínio da tática e por essa razão foi designado como responsável pelo treinamento do Exército imperial para as futuras campanhas na selva. Portanto, ajudou a planejar a invasão da Malásia em dezembro de 1941, com o objetivo último de arrebatar os britânicos da colônia de Singapura, que possuía grande valor simbólico, pois representava o domínio britânico no Oriente e era considerada inexpugnável. Ninguém discutia esse fato, sempre e quando fosse assaltada do mar, mas os ingleses não haviam pensado na possibilidade de que se pudesse lançar contra ela uma ofensiva terrestre. Isso foi precisamente o que fez o audaz Yamashita. Cruzando a Tailândia e descendo pela costa ocidental malaia, os soldados japoneses apresentaram-se na porta traseira de Singapura. Os britânicos não tiveram tempo de estabelecer uma sólida linha de defesa e puderam resistir apenas durante uma semana às investidas do Tigre da Malásia. Embora as baixas japonesas somassem 10 mil homens, os britânicos perderam um total de 138 mil soldados. Em abril de 1944, Yamashita pode por fim abandonar as remotas guarnições da Manchúria e foi nomeado comandante do XIV Exército, sendo destinado às Filipinas. Teve apenas uma semana para estabelecer a defesa das ilhas antes do ataque norte-americano; como era de se esperar acabaria sendo derrotado tanto na campanha de Leyte como na de Luzón. Finalmente, Yamashita considerou que a resistência em Manila era inviável e decidiu abri-la à entrada das tropas norte-americanas, mas seus subordinados desobedeceram às ordens e decidiram defender a cidade até a morte. Apesar da extraordinária pressão norte-americana, ele e seus homens se moviam com desenvoltura em um meio tão hostil como a selva filipina, em razão do que conseguiu manter a resistência no arquipélago até a rendição do Japão. Yamashita rendeu-se oficialmente aos Aliados em 3 de setembro de 1945, na residência do embaixador norte-americano nas Filipinas. O antes temido general foi julgado como criminoso de guerra, acusado de 123 crimes. Porém, antes que fosse sentenciado à morte, Yamashita havia sido submetido a intensos interrogatórios. O objetivo não era somente averiguar detalhes sobre sua atuação militar durante a guerra ou estabelecer sua possível culpabilidade.

Tanques japoneses desfilam  em Manila, Filipinas. Antes da rendição do Japão, os Aliados tiveram notícia de que Yamashita havia acumulado enormes riquezas em seu périplo pelo sudeste asiático, quando inclusive os templos budistas foram saqueados. Os despojos aumentaram durante sua estada nas Filipinas; a antiga colônia espanhola foi amplamente saqueada pela cobiça japonesa, não sendo respeitadas sequer as igrejas de culto católico nem as posses de cidadãos civis. Mas foram os bancos ocidentais que tinham representação nas Filipinas os que mais atraíram o interesse dos japoneses, da mesma forma que o tesouro filipino, que passou para as mãos do Yokohama Specie Bank, cujo principal acionista era o próprio imperador Hirohito. Uma parte do ouro confiscado serviu para financiar a guerra; para isso, recorreram-se às entidades financeiras dos países neutros. Os bancos suíços, portugueses, argentinos ou chilenos se encarregariam da lavagem desses fundos, permitindo assim aos japoneses realizar suas compras de armas ou matérias-primas no exterior. O tesouro acumulado em consequência dessa rapina era incalculável; era composto de lingotes de ouro e prata, antiguidades chinesas, objetos entalhados, assim como uma infinidade de pedras preciosas. Yamashita seria enforcado na localidade filipina de Los Bafios, na Província de Laguna, em 23 de fevereiro de 1946. O mistério também envolve os momentos anteriores à sua execução, pois alguns defendem que, até o último instante, os norte-americanos o torturaram para que revelasse a localização do tesouro. Ao que parece, os interrogadores aliados não obtiveram resposta e Yamashita levou seu segredo para o túmulo. Porém, resta a possibilidade de que as riquezas que permanecem ocultas sejam ainda maiores, pois há investigadores os quais asseguram que as Filipinas não só escondiam as riquezas acumuladas nas campanhas de Yamashita, mas que nessa ilha foi armazenado o fruto de todas as conquistas japonesas, sob a supervisão constante do imperador Hirohito. Durante a guerra, estabeleceu-se em Singapura um ponto de abrigo de todo tipo de bens saqueados nas zonas controladas pelo Exército japonês. Da Manchúria às Índias holandesas, passando pela Coréia e pela China, os japoneses se apoderaram de todas as riquezas que puderam encontrar.

Em Singapura existia uma corporação de administradores e contadores encarregada de inventariar e quantificar o produto do saque japonês. Dali, tudo era enviado às Filipinas, onde era armazenado e supervisionado. Depois da Batalha de Midway, em junho de 1942, a possibilidade de uma derrota japonesa já se anunciava no horizonte, razão pela qual se tomou a decisão de enviar ao Japão as riquezas acumuladas nas Filipinas. Começou-se pelos lingotes de ouro, transportados em barcos-hospitais para evitar os ataques da Aviação e da Marinha norte-americanas. No Japão, foram construídos túneis subterrâneos para abrigar o precioso tesouro. Porém, a partir de 1943, o translado a partir das Filipinas já não era possível, graças ao rígido bloqueio marítimo ao qual o Japão estava sendo submetido. Portanto, o saque de guerra devia permanecer em Manila, à espera de tempos melhores. Para proteger o tesouro, foram utilizados os subterrâneos da parte antiga da capital. A velha cidade espanhola, conhecida como Intramuros, na qual abundavam túneis, serviu de esconderijo para guardar o saque. Além disso, foram escavadas passagens que comunicavam esses túneis com o porto de Manila, para facilitar, se necessário, uma rápida evacuação pelo mar. Com a finalidade de manter, a todo custo, o ouro a salvo dos bombardeios, decidiu-se também armazená-lo em igrejas e universidades, que nunca seriam alvo das bombas norte-americanas. Ao norte da cidade, utilizaram se covas e foi construída uma rede de túneis para manter escondido o imenso tesouro. Depois da rendição do Japão, a pista do tesouro se perdeu. O que aconteceu com todas as riquezas escondidas? Nada se sabe delas. De repente, tudo o que faz referência aos objetos de valor armazenados pelos japoneses fica arquivado como secreto e não há sinal de seu destino final. A ausência de qualquer informação oficial sobre o assunto poderia significar tanto seu confisco pelos norte-americanos quanto o total desconhecimento do paradeiro final do tesouro. Em 1974, ocorreu um fato que trouxe mais confusão a esse emaranhado assunto. Um turista descobriu o último soldado japonês que ainda não havia se rendido, o tenente Hiroo Onoda. Curiosamente, isso aconteceu... na ilha de Lubang! Em 1944, Onoda recebeu ordens precisas de se manter em seu posto "mesmo quando a unidade sob seu comando fosse destruída" e até mesmo se "o Japão deixasse de existir". Depois da guerra, Onoda cumpriu essa ordem à risca e viveu sozinho na ilha, alimentando-se do que a selva lhe proporcionava e furtando um pouco de comida nas aldeias. Por que essa ordem foi dada a Onoda? Obviamente, não é disparatado pensar que sua missão estivesse relacionada de algum modo com o suposto tesouro. Mas esta é uma outra história...





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